Transplante de Fígado

Autores: Carolina Alves Costa Silva1, Dr. Marcelo Costa Silva2, Dra. Andréa Cavalcante3

1-Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina
2,3-Médico(a) Gastro-hepatologista

 

Introdução

A grande maioria das doenças hepáticas, quando não diagnosticadas e tratadas previamente, evoluirá para cirrose. A cirrose, por sua vez, poderá apresentar-se descompensada, com não resposta ao tratamento clínico. Quando isto ocorre, a única opção de tratamento seria o transplante hepático.

São várias as doenças que podem evoluir para cirrose: doenças metabólicas (como a Doença de Wilson), doenças virais (como as Hepatites B e C), doença alcoólica, bem como as doenças auto-imunes são exemplos destas situações. Uma vez instalada a cirrose hepática, o paciente deve ser incluído em um programa de detecção precoce do nódulo hepático. Assim, é fundamental o acompanhamento médico com exames periódicos de ultrassonografia e laboratório, pois há um risco, maior ou menor, de acordo com a causa da doença hepática, de desenvolver câncer do fígado (chamado de Hepatocarcinoma).

Na avaliação de um paciente com diagnostico de Cirrose Hepática Descompensada para inscrição em lista de Transplante Hepático devemos considerar a gravidade da doença hepática, que pode ser graduada pela Classificação de Child –Pugh em A, B e C, além da presença de câncer de fígado. Também são avaliadas as contra-indicações ao procedimento como a presença de outras doenças associadas, por exemplo, doenças cardíacas e pulmonares avançadas. Os critérios de inclusão vão desde hemorragias digestivas, ascite refratária com infecções, até encefalopatia hepática (distúrbio de comportamento por conta da cirrose). O câncer de fígado também teria indicação para lista de transplante, desde que não seja uma lesão avançada (nódulo único menor que 5 cm quando ou múltiplos nódulos menores que 3 cm).


Como ocorre a inclusão na lista?

A lista de Transplante funcionava como uma FILA ÙNICA. Os primeiros a serem transplantados eram aqueles que se inscreviam primeiro, independente da gravidade da doença. Assim, muitos doentes graves, com câncer de fígado, por exemplo, morriam em lista sem chance de receber um fígado novo. Desde 2002, em outros países, como os Estados Unidos, e desde 2006 em nosso país houve uma mudança importante na lei dos Transplantes. Com a Portaria Nº 1.160, publicada em 2006, o Ministério da Saúde implantou um novo modelo para inclusão e manutenção dos pacientes na lista de transplante. Este modelo considera a gravidade da doença determinada por um cálculo matemático utilizando exames laboratoriais realizados pelo paciente em uma mesma data e em laboratórios confiáveis. O sistema MELD/PELD permite que pacientes mais graves sejam alocados mais à frente da lista. Como critérios de desempate, em caso de um mesmo MELD para dois pacientes com o mesmo grupo sanguíneo, considera-se a data de inscrição e a idade (o paciente mais velho tem prioridade).

O grande problema do transplante, no entanto, é a pequena quantidade de fígados disponíveis para transplante, seja por resistência dos familiares para doação dos órgãos, quanto por manipulação inadequada desses órgãos nos hospitais. Uma estratégia que tem sido usada para aumentar o número de pessoas transplantadas é o uso de doadores vivos. Esta técnica é viável, pois o fígado é um órgão com grande capacidade regenerativa, compensando a parte que foi retirada do doador.


O que é o MELD?

O MELD, para adultos e adolescentes maiores de 12 anos, consiste em uma pontuação obtida a partir de um cálculo que envolve algumas dosagens em exames laboratoriais: creatinina, bilirrubina total e frações e determinação do RNI (Relação Normatizada Internacional da atividade de protombina). Tais exames são realizados rotineiramente no acompanhamento ambulatorial dos pacientes, e são importantes indicadores da função hepática. Assim, alterações nesses exames sinalizam desordens na realização de importantes funções do fígado no organismo.

Vale lembrar que não podem ser utilizados resultados de exames realizados em diferentes datas: os resultados desses exames devem ser obtidos a partir de uma única coleta de sangue. Além disso, devem ser realizados em laboratórios reconhecidos pela Sociedade Nacional de Transplantes, o que garante confiabilidade aos valores obtidos. Tais medidas impedem que haja manipulação dos resultados para benefício de um único indivíduo, e que os órgãos sejam destinados a pessoas que realmente necessitam.


O que é o PELD?

O cálculo do PELD, para crianças menores de 12 anos, utiliza os valores de bilirrubina, RNI e albumina. Como a lista de transplantes é a mesma para crianças e adultos, é importante que haja um ajuste do valor do PELD, que se torna equivalente ao PELD. Assim, não ocorre priorização do paciente por conta da idade, sendo levado em conta o estado clínico deste. Por isso, o MELD e o PELD são considerados critérios de gravidade clínica.

 

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