Hemocromatose

Autores: Flávia Guimarães Porto1, Dra. Delvone Freire Gil Almeida2

1 Faculdade de Tecnologia e Ciências, Faculdade de Medicina
2 Médica Gastroenterologista e Professora da Universidade Federal da Bahia

 

O que é?

A hemocromatose hereditária é uma doença progressiva de deposição de ferro, resultado do aumento excessivo da absorção intestinal de ferro. Os principais órgãos afetados incluem o fígado, pâncreas e pele.

É uma doença autossômica recessiva, causada por mutação no gene HFE, localizado no braço curto do cromossomo 6. A principal mutação (C282Y) resulta na substituição de tirosina para cisteína. A proteína secretada por esse gene é encontrada nas células das criptas do intestino delgado, associada à beta-2-microglobulina e ao receptor da transferrina, e é responsável pela regulação da absorção do ferro.


Como acontece?

A homeostasia do ferro é regulada predominantemente pelo fígado. Ele
atua como um reservatório para armazenamento de ferro que é em grande parte incorporado pela ferritina. O intestino delgado é o local de absorção de ferro.

Admite-se que a desregulação determinada pela mutação no gene C282Y seja a responsável pela absorção de grandes quantidades de ferro pelo intestino, levando ao acúmulo em alguns órgãos como fígado, pâncreas, pele, coração, hipófise e articulações.

 

O que se sente?

Existem pacientes sintomáticos e assintomáticos. Aqueles pacientes assintomáticos devem ser identificados precocemente, pois se iniciada a terapia, evoluem sem lesão de órgãos onde se deposita o metal.

Os pacientes sintomáticos podem cursar com quadro de pigmentação cutânea, diabetes mellitus e cirrose, que compõem a forma clássica de apresentação da doença.

Os outros sintomas são: hepatomegalia (aumento do tamanho do fígado), hipogonadismo (diminuição da função das gônadas - ovário e testículo), esplenomegalia, edema periférico, icterícia, ascite, ginecomastia pele seca, perda de cabelo, atrofia testicular dolorida e redução da libido.

A pigmentação cinza-azulada, causada por impregnação de melanina e ferro na camada basal da epiderme, predomina em axilas, regiões inguinais, genitália, cicatrizes, áreas expostas, e mucosa oral.

Artralgia e artropatia também são freqüentes, além também dos sintomas neurológicos, como desorientação, depressão, letargia acentuada e hipoacusia.

Ocorrem alterações eletrocardiográficas, miocardiopatia, arritmias e insuficiência cardíaca congestiva.

 

Como o médico faz o diagnóstico?

O médico irá suspeitar de Hemocromatose Hereditária quando houver doença hepática em pacientes que apresentem elevação da ferritina e da saturação da transferrina, sobretudo em pacientes diabéticos, bem como quando houver alteração dos exames laboratoriais hepáticos em familiares de portadores de Hemocromatose Hereditária.

São critérios para o diagnóstico de Hemocromatose Hereditária:

1) aumento do depósito total de ferro, com distribuição primária em células parenquimatosas;

2) ausência de outras causas conhecidas de sobrecarga de ferro;

3) presença dos alelos mutantes C282Y no HFE, quando a pesquisa for possível.

O teste genético é útil no algorítmo diagnóstico, mas é importante lembrar que existem pacientes com sobrecarga de ferro sem a mutação e homozigotos C282Y sem sobrecarga de ferro. A ferritina e a saturação da transferrina são exames que devem iniciar a investigação.


Como se trata?

O tratamento é feito através de flebotomias semanais ou bisemanais, retirando-se 500 ml de sangue, que correspondem a 250 mg de ferro de depósito, constitui o meio mais seguro, rápido e de baixo custo para o tratamento.

A remoção do ferro em excesso demora de 1 a 3 anos, na dependência da quantidade depositada e a manutenção pode ser feita com sangrias trimestrais de 500 ml ou com monitorização da ferritina sérica, repetindo-se a flebotomia quando ultrapassar 50 ng/ml.

Outro medicamento utilizado é a deferoxamina, um agente quelante do ferro. Porém, não é muito utilizado por ser de alto custo, de administração trabalhosa (geralmente como infusão subcutânea contínua em período de 12 horas por 4 a 6 dias por semana através de bomba especial portátil) e, sozinha, mostrou-se praticamente ineficaz neste tipo de doença, pois possibilita a excreção diária de ferro pequenas.

 

 

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