Distúrbios Gastrintestinais devido ao Diabetes

Autores: Naiane de Melo1, Dra. Márcio Rivison2

1-Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina
2-Médico Gastroenterologista

O que é o Diabetes Mellitus?

É uma doença metabólica caracterizada por um aumento anormal da glicose ou açúcar no sangue. A glicose é a principal fonte de energia do organismo, mas quando em excesso, pode trazer várias complicações à saúde.

O pâncreas é responsável por secretar uma série de substâncias essenciais ao nosso corpo, entre elas:

Insulina: Hormônio capaz de reduzir a glicemia (taxa de glicose no sangue)

Glucagon: Hormônio capaz de aumentar a glicemia

A função do pâncreas é manter a glicemia em valores normais. O Diabetes Mellitus (DM) é caracterizado pela perda da capacidade de equilibrar esses valores devido a ausência ou ineficiência da insulina. O DM pode ser dividido em :

Tipo 1 - Onde as próprias células do nosso corpo destroem as células pancreáticas, uma condição chamada de doença auto-imune.

Tipo 2 - O problema está na incapacidade de absorção de glicose nas células musculares e adiposas. Por muitas razões, suas células não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sangüínea. Esta é uma anomalia chamada de "resistência insulínica". O DM 2 tem grande relação com obesidade, sedentarismo e fatores genéticos.

Caso o doente não controle a sua glicemia, algumas complicações da doença podem surgir em aproximadamente 8 a 10 anos. Infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, doenças renais, oculares e gastrointestinais são exemplos dessas complicações.


O que é Neuropatia Diabética Autonômica?

A Neuropatia Diabética Autonômica (NDA) é uma das mais comuns complicações do DM, sendo potencialmente debilitante. O sistema nervoso autônomo (SNA) corresponde a subdivisão do sistema nervoso que é responsável pela vida vegetativa. Ele controla a respiração, circulação, temperatura, digestão, etc. Essa rede de fibras nervosas inerva o músculo involuntário (liso), músculo cardíaco e glândulas. O DM consiste na causa mais comum de neuropatia autonômica ,ou seja, disfunção do SNA. A doença tende a evoluir de forma lenta e envolve múltiplos órgãos, ocorrendo em igual proporção entre DM1 e DM2.


Patogênese (origem da doença)

A hiperglicemia é o principal fator envolvido na origem da neuropatia autonômica, ou seja, um bom controle glicêmico reduz consideravelmente as chances de desenvolvê-la. A hiperglicemia leva ao acúmulo de sorbitol (substância resultante da hidrogenação da glicose) nas células nervosas que resulta em uma série de alterações que diminuem a velocidade de condução do nervo. Outro mecanismo envolvido na origem da doença é a insuficiência vascular que causa isquemia (redução de aporte de substratos e oxigênio) do nervo. Se o nervo reduz sua capacidade de condução, todas as funções que cabem a ele se tornam retardadas, inclusive a motilidade do trato gastrointestinal que é capaz de conduzir o alimento do esôfago até o ânus.


O que sentimos?

As manifestações clínicas da neuropatia autonômica diabética podem incluir disfunção sexual, distúrbios na bexiga, esôfago, estômago, intestinos, etc. Os sintomas envolvendo o trato gastrointestinal podem ocorrer em até ¾ dos diabéticos podendo acometer desde o esôfago até o ânus.

Esôfago - Ocorre um distúrbio motor no esôfago que resulta em redução do movimento peristáltico. Esse movimento é responsável por empurrar o alimento ao longo do canal alimentar através da coordenação do SNA. Com a redução dessa coordenação, ocorre uma redução no trânsito alimentar esofagiano causando sensação de queimação no peito (pirose) e dificuldade de engolir os alimentos (disfagia). Pode ocorrer também uma redução na pressão do esfíncter esofagiano inferior que é responsável por impedir que o conteúdo gástrico volte para o esôfago. Sendo assim, desenvolve-se uma doença do refluxo gastroesofágico com ou sem sintomas.

Estômago - Do ponto de vista funcional o estômago pode ser dividido em duas partes: o estômago proximal (fundo e porção superior do corpo) e distal (porção inferior do corpo, antro e piloro). O estômago proximal funciona como um reservatório de alimentos, enquanto a porção distal tritura-os e permite o esvaziamento de alimentos sólidos para o intestino. No DM, o acometimento da motilidade gástrica é progressivo. Inicialmente, ocorre a retenção de alimentos sólidos não digeríveis. Posteriormente, observa-se a diminuição da contratilidade antral com retenção de sólidos digeríveis. A retenção de líquidos é mais tardia, revelando deficiência na motilidade da porção proximal do estômago. Além das alterações motoras, nota-se diminuição da secreção ácida, possivelmente devido à neuropatia autonômica. A gastroparesia diabética, ou limitação dos movimentos do estômago é visto em 20 à 50% dos pacientes. Resulta da anormalidade de inervação visceral autonômica. Ocorre redução da motilidade do antro (porção distal do estômago), falta de sincronia entre estômago e duodeno e falta de relaxamento do estômago para receber os alimentos. Os sintomas também podem resultar de uma lesão da musculatura lisa por falta de suprimento sanguíneo resultante de lesões aos vasos que irrigam esse órgão, ou por alteração dos hormônios gastrointestinais.

Sintomas - São variáveis, ocorrendo desde retenção gástrica sem sintomas até episódios de náuseas, vômitos de alimentos não digeridos, saciedade precoce, eructação (arroto) e dor abdominal. Isso indica que existe pouca correlação entre os sintomas e o grau de gastroparesia.

Diagnóstico - O médico descobre a doença ao realizar uma radiografia contrastada do estômago. Se o alimento ficar retido no estômago após 8 a 12 horas de jejum é indicativo de gastroparesia. A melhor forma de diagnosticar a doença é através da cintilografia com radioisótopo, onde o paciente ingere uma refeição marcada com radioisótopo para demonstrar a hipomotilidade do antro.

Tratamento – Pode ser de três tipos:

Dietético - Recomenda-se refeições fracionadas, em pouca quantidade e com baixo teor de gordura. Nos casos graves pode ser recomendada a dieta líquida, nutrição enteral ou parenteral

Medicamentoso – Não existe, até o momento, uma terapia clínica comprovadamente efetiva, a longo prazo. Pode ser feito uso de drogas que acelerem o esvaziamento gástrico, que aumentem o tônus do esfíncter esofágico inferior e que melhorem os sintomas gástricos.

Cirúrgico – Quando o tratamento medicamentoso não suspende os sintomas. A cirurgia pode retirar uma parte do estômago.


Intestinos-É muito comum o doente ter constipação alternada com diarréia. A constipação resulta da baixa motilidade do intestino e quando avançada pode causar perfuração intestinal e impactação das fezes.

Diagnóstico - O diagnóstico é dado quando o médico avalia o tempo de trânsito das fezes no intestino grosso após o doente ter ingerido marcadores radiopacos.

Tratamento - É feito inicialmente com exercícios regulares, aumento da ingestão de líquidos e consumo de fibras. Drogas osmóticas e que estimulem a musculatura lisa do intestino também são úteis.

A diarréia observada nestes doentes é do tipo explosiva e noturna. Ela surge porque ocorre um supercrescimento bacteriano devido à constipação.


Como evitar a Neuropatia Diabética Autonômica?

Procurar controlar o nível glicêmico rigorosamente reduz o desenvolvimento e a progressão da doença. Caso já apresente a doença, a terapêutica deve ser individual e dirigida para a manifestação específica. Até o momento não foi possível reverter essa complicação do DM.

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