Diarréia Crônica

Autores: Maira Sueli Nascimento de Souza1, Dr. 2

1-Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina
2-

 

O que é?

É uma alteração do ritmo intestinal com aumento do número de evacuações(>3x/dia), volume e aspecto das fezes, que se tornam pastosas ou líquidas e que se estende por um período maior que 4 semanas. Esta é uma definição temporal. Logo, é de fundamental importância seu diagnostico adequado para que não se confunda diarréia aguda nas suas primeiras semanas de evolução.

 

Patogenia (Como acontece?)

Quatro mecanismos principais podem explicar a fisiopatologia da diarréia:

A)Osmótica

Caracteriza-se pela presença de substâncias pouco absorvíveis na luz intestinal. Essas substâncias impedem a absorção de água pelo intestino e, às vezes, também proporcionam seu retorno à luz intestinal. Pode ser causada por substâncias com propriedade laxante como, por exemplo, a lactulose e o sorbitol. Doenças com quadro disabsortivo causam esse quadro diarréico devido a digestão incompleta de nutriente, entre eles, proteínas e carboidratos, retendo água no lúmen intestinal.

Ex: Pancreatite Crônica

B)Secretória

Nesta classificação de diarréia, a água e eletrólitos são secretados pelo intestino, apesar de os mecanismos de digestão e absorção estarem intactos. A secreção supera a absorção,perfazendo um quadro com evacuações bastante liquefeitas.

Ex: Cólera

C)Exsudativas

Também do tipo secretória, porém o conteúdo secretado é constituído por material protéico, restos celulares e sangue.

Ex: Infecção Parasitária, Tumores e Doença Inflamatória Intestinal (Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn)

D)Motora

Tanto o aumento quanto a diminuição da motilidade no trato gastrointestinal podem causar diarréia. No trânsito acelerado, há diminuição do tempo de contato do alimento com a parede intestinal, o que prejudica sua absorção. (Ex: hipertireoidismo). Já a lentificação do trânsito ao longo do tubo digestivo favorece o crescimento bacteriano em segmentos intestinais originalmente estéreis. Essa flora bacteriana anormal causa prejuízo ao equilíbrio intestinal, favorecendo a ocorrência de diarréia. (Ex: hipotireoidismo, neuropatia entérica no diabetes)

Diversas podem ser as causas de diarréia crônica em nosso meio, entre elas:

  1. infecções

  2. intolerância alimentar

  3. síndromes disabsortivas

  4. inflamatórias

  5. prolongamento da diarréia aguda

  6. neoplasias

  7. uso prolongado de medicamentos como hipoglicemiantes orais, diuréticos, beta-bloqueadores.


Sinais e sintomas (O que se sente?)

A sintomatologia na diarréia crônica é semelhante àquela que ocorre na diarréia aguda: fezes volumosas, presença de restos alimentares não digeridos, cólicas abdominais; aumento do número de evacuações, além de urgência para evacuar, presença de pus, sangue ou muco, e tenesmo que se traduz pela sensação dolorosa na região anal com desejo contínuo de evacuar. A diarréia crônica pode se apresentar como a continuação de episódios agudos, persistente, ou apresentar períodos de melhora ou mesmo assintomáticos, com evacuações normais entre os períodos de crises agudas.

Alguns sintomas falam a favor de síndrome de má absorção como, fezes volumosas, gordurosas, de odor desagradável, que bóiam no vaso sanitário, além de emagrecimento, anemia.


Evolução

A evolução do quadro depende primeiramente da causa da diarréia e do seu tipo de apresentação. Além disso, fatores como segmento acometido do trato gastrointestinal, idade, estado imunológico e nutricional, diagnóstico e tratamento adequados irão influenciar na evolução do quadro. Pacientes imunocomprometidos possuem maior probabilidade de desenvolver quadro diarréico crônico pela maioria dos agentes infecciosos. As diarréias na síndrome de má absorção podem cursar com comprometimento importante do estado nutricional.

 

Diagnóstico (Como seu médico irá diagnosticar?)

A investigação das diarréias crônicas é um desafio para os médicos. Devem-se realizar os exames em etapas seguindo um raciocínio clínico, pelas doenças e grupo mais prováveis. Anamnese minuciosa e exame físico detalhado devem ser realizados a fim de reconhecer as mais variadas causas: mudanças no hábito alimentar, ingestão de substâncias laxantes, antecedentes cirúrgicos, etilismo crônico, estado nutricional, característica das fezes, uso de drogas que podem causar diarréia.

Exames complementares devem ser solicitados de acordo com as suspeitas clínicas. Hemograma, provas inflamatórias(PCR, alfa-1-glicoproteína ácida), dosagem de proteínas plasmáticas, glicemia de jejum, T4 livre, TSH, parasitológico de fezes, coprocultura, pesquisa de leucócitos fecais, dosagem de gordura fecal, colonoscopia, análise anátomo-patológica, compõem parte do arsenal disponível no auxílio da investigação.

 

Tratamento

O tratamento deve ser instituído de acordo com a causa. Na doença causada por intolerância alimentar, o tratamento consiste em uma dieta isenta do alimento em questão. EX: glúten, lactose. Nas doenças inflamatórias intestinais, indica-se terapia com corticóide ou imunossupressora. Pela dificuldade de diagnóstico, medicamentos sintomáticos podem ser utilizados para aliviar os sintomas. Antidiarreicos estão contra-indicados nos casos infecciosos e inflamatórios mais exuberantes pois seu uso pode piorar o quadro. Antibióticos estão indicados nos casos de pacientes imunodeprimidos, idosos, portadores de próteses, com febre alta, sintomatologia sistêmica e suspeita de sepse. Vale ressaltar, no entanto, que deve-se evitar a auto medicação. O profissional de saúde precisa acompanhar e investigar o paciente para decidir a melhor terapêutica a ser empregada.


Prevenção

Infelizmente não há medidas para prevenir a diarréia crônica. A maior parte dos casos compõe-se de doenças de evolução arrastada, com períodos de melhora e reincidência. Além disso acometem indivíduos que apresentam fatores predisponentes nos quais não é possível intervir (genéticos, imunológicos, idade, metabólicos).


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