Cirurgia Bariátrica
Autores: Izzo Antonio Belarmino Araújo1, Dra. Delvone Freire Gil Almeida2
1 Faculdade de Tecnologia e Ciências, Faculdade de Medicina
2 Médica Gastroenterologista e Professora da Universidade Federal da Bahia
O que é obesidade?
A obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo. Sua prevalência vem crescendo acentuadamente nos últimas décadas e os custos com suas complicações atingem cifras de bilhões de dólares. Considera-se obesidade quando, em homens, há mais do que 20% de gordura na composição corporal e, em mulheres, mais do que 30%. Na prática clínica, na maior parte dos estudos e na classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS) utiliza-se o Índice de Massa Corporal (IMC), calculado dividindo- se o peso corporal, em quilogramas, pelo quadrado da altura, em metros quadrados.
Como se classifica a obesidade de acordo com o IMC?
Quando o IMC encontra-se acima de 30 kg/m² fala-se em sobrepeso grau II ou obesidade.5 Quanto a gravidade, a OMS define obesidade grau I quando o IMC situa-se 30 e 34,9 kg/m2, obesidade grau II quando o IMC está entre 35 e 39,2 kg/m² e obesidade grau III quando o IMC ultrapassa 40kg/m².
Como é feita a abordagem terapêutica da obesidade?
A orientação dietética, a programação de atividade física e o uso de fármacos anti-obesidade são os pilares principais do tratamento. Entretanto, o tratamento convencional para a obesidade grau III continua produzindo resultados insatisfatórios, com 95% dos pacientes recuperando seu peso inicial em até 2 anos. Devido a necessidade de uma intervenção mais eficaz na condução clínica de obesos graves, a indicação das operações bariátricas vem crescendo nos dias atuais.
Quando está indicado o tratamento cirúrgico para a obesidade mórbida?
A presença da obesidade grau III está associada a piora da qualidade de vida, a alta freqüência de comorbidade (doenças), a redução da expectativa de vida e a grande probabilidade de fracasso dos tratamentos menos invasivos.
A indicação do tratamento cirúrgico deve basear-se numa análise abrangente de múltiplos aspectos clínicos do doente. A avaliação desses pacientes no pré e pós-operatório deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar composta por endocrinologistas, nutricionistas, cardiologistas, pneumologistas, psiquiatras, psicólogos e cirurgiões.
Quem são os candidatos a cirurgia bariátrica (redução do estômago)?
São candidatos ao tratamento cirúrgico pacientes com o IMC maior que 40 kg/m² ou com IMC superior a 35 kg/m² associado a comorbidades, tais como apnéia do sono, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemias e dificuldades de locomoção, entre outras de difícil manejo clínico.
Em quais situações a cirurgia bariátrica é contra-indicada?
A cirurgia estaria contra-indicada em pacientes com pneumopatias graves, insuficiência renal, lesão acentuada do miocárdio, cirrose hepática, abuso constante de substâncias, falta de comprometimento definido com tratamento anterior e certos transtornos psiquiátricos (esquizofrenia, personalidade borderline, depressão incontrolável).
Quais são os objetivos dessa cirurgia?
Os objetivos principais das operações bariátricas são o da redução das comorbidade e melhora da qualidade de vida e não apenas a redução de peso.
Quais são os tipos de cirurgia?
As cirurgias realizadas e que são reconhecidas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e pelo Conselho Federal de Medicina são as seguintes:
Cirurgias restritivas – são as menos utilizadas atualmente, têm o objetivo de restringir o volume de alimento ingerido. A mais realizada constitui-se na colocação de um anel ajustável de material altamente especializado na transição esôfago-gástrica.
Cirurgias restritivas com desvio do trânsito intestinal (Capella / Wittgrove) – são as mais realizadas. Transformam uma porção do estômago em um pequeno reservatório de +/- 30 ml, diminuindo bastante a quantidade de alimento ingerido, e também promovem uma disabsorção de uma fração dos alimentos através de um desvio no trânsito do intestino delgado.
Derivações bílio-pancreáticas (Scopinaro/Duodenal Switch) – são procedimentos com indicações mais selecionadas que levam a um processo de maior disaborção alimentar e não interferem na quantidade de alimento ingerido.
Por que optar pela cirurgia aberta ou videolaparoscópica?
A cirurgia realizada da forma aberta (convencional) ou por videolaparoscopia é exatamente a mesma, o que muda é o acesso utilizado - grandes incisões (na aberta) ou mini-incisões (na laparoscópica). Obviamente, quando se opta pela forma menos invasiva, a dor pós-operatória e as complicações com a própria ferida cirúrgica são menores, o tempo de internação e de recuperação também é menor, fazendo da cirurgia por videolaparoscopia a mais adequada e devendo ser indicada sempre que possível.
Essas cirurgias oferecem riscos? Quais?
Sim, como quaisquer outros procedimentos cirúrgicos. Embora mínimos, existem índices de morbidade e mortalidade cirúrgicos. A mortalidade e a mortalidade desse procedimento varia obviamente com a condição clínica pré-operatória do obeso e seu grau de obesidade. As complicações mais comuns no período pós-operatório são as pulmonares (pequenos colabamentos no pulmão –atelectasias e pneumonias), trombose venosa profunda e embolia pulmonar (coágulos que se forma dentro do sistema venoso), infecção da ferida operatória, vazamento do conteúdo gastrointestinal através da abertura das suturas (costuras) realizadas, sangramento digestivo pelo reto, e cálculos na vesícula biliar a longo prazo. De modo geral, a mortalidade encontra-se em níveis inferiores a 3%.
Há alguma recomendação específica para o pré-operatório?
Além do preparo pré-operatório que se faz de rotina para qualquer procedimento cirúrgico, é solicitado ao paciente que se esforce para uma certa perda de peso, pois alguns quilos a menos podem significar melhores condições para uma anestesia geral e também podem ajudar durante o procedimento.
Como será o pós-operatório?
Nas operações realizadas por videolaparoscopia o período pós-operatório costuma ser tranqüilo, com pequeno desconforto nos locais das incisões. É muito importante salientar que a dieta (líquidos) adotada nesse período deve ser seguida rigorosamente.
Qual a importância do acompanhamento pós-operatório?
O acompanhamento a longo prazo é necessário para assegurar uma nutrição adequada em proteínas, calorias, vitaminas e sais minerais. A suplementação com vitamina B12, ferro e cálcio é adicionada rotineiramente às doses-padrão de complexos multivitamínicos. A maior parte do peso perdido ocorre durante o primeiro e segundo anos. Perdas de peso a longo prazo (maior que 5 anos) são exibidas nos programas bem sucedidos. Os pacientes com perdas de peso significativas experimentam uma importante melhoria nas complicações médicas da obesidade. Por estas razões, a cirurgia tornou-se uma importante ferramenta no tratamento da obesidade grave e complicada clinicamente.